domingo, 17 de dezembro de 2006

Carta a..."Miguel Esteves Cardoso"

País Absurdo

"Somos um país absurdo. Somos portugueses absurdos. Somos porque está na nossa essência, é algo que está dentro de nós, enraizado talvez culturalmente, ou pela sociedade que cultiva essa mesma cultura do “absurdo”. Achei absolutamente delicioso, a entrevista em que o Miguel Esteves Cardoso foi figura central, despertando as mentes portuguesas, que viam a RTP àquela hora, pois sabemos que a maioria dos portugueses gostam mais de ver uma novela com florzinhas e mentirinhas do que uma entrevista interessante de alguém que merece a consideração dos portugueses e intelectuais. Poucos, mas há! Realmente despertei para essa “chamada de atenção”, porque afinal somos um país que vive de absurdos, porque continuam a viver acima das possibilidades, mas depois, como sempre…logo se vê! Continuamos no mesmo disparate de criarmos ilusões acerca de tudo, sobre tudo. De termos sempre razão, mesmo quando não a temos e no final de qualquer discussão, somos sempre os últimos a ter a palavra, mesmo quando já perdemos o direito de a ter. Somos portugueses, ingénuos porque acreditamos nos políticos, somos portugueses que ingenuamente acreditam no amor, mas somos batalhadores nisso, e nisso há que dar a mão à palmatória. Somos românticos inveterados. Somos um país doce. Um país de doces e brandos costumes, de doces prazeres, de doces conversas. Um país de boa comida e que sabe bem receber. Nisso, é verdade.
Somos excelentes anfitriões, dos melhores do mundo, sem dúvida! Somos muito mais que isso, só que vivemos num país absurdo, que por muito que digamos o que está mal, falamos, falamos, falamos, falamos, falamos mas ninguém faz nada! Somos absurdos porque temos sempre soluções para os outros, mas nunca temos soluções para a nossa vida, para os nossos interesses particulares, para as nossas dívidas, para a resolução de amores mal resolvidos…
Absurdos, porque acreditamos que ainda seremos um povo maior que a Alemanha, a França ou a Itália, por exemplo. Nunca poderemos ser o que sonhamos porque Portugal, já não está no séc. XVI, e já não é o “todo-poderoso” “Império Lusitano”. Vivemos na ilusão de um dia podermos ser melhores do que já somos. Mas aqui, é que todos se enganam. Nós somos bons! Melhores até que os ingleses, espanhóis, ou até mesmo os franceses ou italianos. Temos uma natural propensão para as línguas como poucos. Nós soubemos mais de navegação que qualquer outro país europeu. Sabemos hoje mais de ciência e de tecnologia, de música, de literatura, de saúde, de futebol…sabemos de Tudo.
Sabemos mais da vida dos outros, do que da nossa! Só podemos ser bons! É verdade! Sabemos muito mais do que nós próprios pensamos e muito mais do que aquilo que os outros pensam sobre o que nós pensamos que sabemos. Porque quando pensamos…somos os melhores.
E isso, é absurdo. A maneira como o Miguel Esteves Cardoso pensa sobre os portugueses, despertou aquilo que me fez rir, porque é verdade. Os portugueses não podem ter poder, não se lhes pode dar poder, nem o mínimo que seja, que automaticamente se tornam “monstros” como “carinhosamente” os chama, pelo facto de o poder dar às pessoas poder para serem autoritárias, quando na realidade, o poder é uma forma de dar responsabilidade(s). Somos assim absurdos com o poder porque vivemos demasiado tempo numa gaiola autoritária que sempre reprimiu os portugueses, principalmente, os mais pequenos e hoje com a Democracia não sabemos controlar um estado de ansiedade. Um estado de ansiedade chamado “Poder”. Somos absurdos até nisso, porque como já ouvi dizer:”Um grande poder, traz grandes responsabilidades” e temos de estar à altura delas, mas nós…ainda não estamos.
Temos sempre solução para tudo e em tudo, temos sempre a melhor solução para o mal da vida e das coisas que acontecem aos outros. Para nós…o caso muda de figura, somos sempre muito tristes, como o Fado! Somos tão absurdos, que mesmo tendo uma equipa de futebol, com grandes futebolistas e com treinadores respeitáveis, lá tem de o “português absurdo” comprar de vez em quando, um árbitro que esteja em saldo, um fiscal de vez em quando, um…qualquer coisa de vez em quando.
Temos o defeito de copiar na escola e deixarem que copiem e depois mais tarde temos a mania de “comprar”, é como um tique! Toma lá, dá cá…
Sabemos muitas das vezes que somos culpados por aquilo que nos acontece, porque não pensamos a longo prazo, é sempre o desenrasca e o, ”logo se vê”.
Depois damo-nos mal, como sempre. Podemos até não ir presos pelo mal que fizemos mas ficamos marcados. Sabemos que muitas das vezes até temos jeito para fazer as coisas bem, mas “portuga” que é “portuga”…”logo vê!”.Deixo um recado ao País absurdo: “Não pensem que são absurdos, como ofensa, e nem pensem que são absurdos porque alguém disse que são. Acreditem que são melhores, porque realmente são melhores, e acreditem que podem ser melhores, porque em tudo, o sonho, faz parte da vida”."

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