terça-feira, 8 de abril de 2008


foto: João Espinho

Os rostos cansados, dos velhos, que já foram jovens, lembram-se lá ao longe dos sonhos que tiveram e não realizaram nem metade deles. Rostos cansados, dos dias solarengos, das noites ao relento, do vinho que beberam, das noites de folia, dos bailaricos, e de namorarem à janela das suas cachopas. Rostos cansados de tantos anos a fazer o mesmo, sempre o mesmo.
Levantar, passear pelos campos os animais, entreterem-se com as brincadeiras dos cães que ainda guardam as poucas ovelhas que ainda têm, que o tempo hoje não é para pastores, é para os computadores. Já nada é como antigamente. Deitam-se, os ossos já rangem, os comprimidos, se é que têm dinheiro para os ter, tomam, para descansarem. Rostos cansados, mas cheios de sabedoria e experiência da(e) vida. Isso ninguém lhes tira. Rostos cansados, mas cheios de histórias para contar, de coisas que eu já não sei o que são, de coisas que nunca ouvi falar, de coisas que só estão na minha imaginação, porque nunca as vivi. Rostos cansados que nos lembram que temos um passado, de vivermos o presente, para depois, contarmos ao futuro, como eles a nós, o passado. De rostos cansados…

in: Praça da República em Beja

2 comentários:

Sol disse...

É por isto que eu gosto tanto dos nossos velhinhos, é por isso que o Alentejo é mágico... Pq eles continuam a conhecer-nos, a lembrar-se dos nosso pais em miúdos, pq elas continuam de lenço na cabeça e nunca vão permitir que a tinta substitua a cal... Pq as nossas ruas vão ser sempre branquinhas com barras azuis. Eles aguentam os quarenta graus sem um "ai", apreciam a chuva como um dom de Deus... Pq eles ainda vão ao barbeiro e bebem tinto num copo. Pq eles têm uma paciência do tamanho do mundo... Pq não percebem a utilidade da televisão, pq mesmo sem escola são mais perspicazes que qualquer um de nós... Pq eles são a nossa alma... É por isso que não os podemos deixar morrer...

Unknown disse...

Tens toda a razão... =)